Desde meados de março, planejar as finanças tem sido uma tarefa árdua para empreendedores brasileiros. Isso porque a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) mudou a demanda de clientes, digitalizou modelos de negócio, diminuiu o poder de compra dos consumidores e esfriou o comércio sazonal em datas comemorativas — Dia das Mães, Dia dos Namorados e São João — , responsáveis por superaquecer os lucros empresariais no ano.
Reunindo baixas consecutivas no faturamento dos últimos meses, um recente levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o comércio encerrou o primeiro trimestre com queda de 2%. Mesmo diante das expectativas geradas pelo ‘relaxamento’ da quarentena, projetar um calendário financeiro espelhado no patamar pré-pandemia está se revelando uma armadilha para MEI’s e pequenos empresários.
Especialista em administração de empresas, o consultor Alex Cruz explica que é necessário ter muito cuidado com o planejamento financeiro em tempos de crise, tendo em vista as oscilações que o mercado apresenta semanalmente; este dependente de fatores como reabertura do comércio, estágio da pandemia, datas comemorativas, poder de compra atual dos brasileiros, entre outras variáveis.
“O calendário de finanças feito na pré-pandemia já pode ser considerado inválido”, enfatiza Alex, que em seguida complementa, “Afinal, o mundo mudou. Existem segmentos que cresceram as expectativas ou que caíram consideravelmente. O impacto deve ser mensurado e a partir daí, montar com dados e informações atuais um novo planejamento financeiro”, explica.
Para planejar corretamente, Alex orienta evitar projeções comparativas de meses ou anos com épocas anteriores; monitorar constantemente as variáveis do mercado regional, nacional e global; mudar o direcionamento das vendas a partir dos dados obtidos da empresa — maiores vendas significa maior projeção e vice-versa — e datar o calendário de finanças sempre à curto prazo (semanalmente ou quinzenalmente).
“É preciso entender também que se você espera retorno imediato, o seu negócio está fadado ao fracasso. Acompanhe as mudanças positivas sutis no novo planejamento. Muita gente abre empresa com o pouco recurso que tem e já conta que esse negócio vai gerar caixa nos primeiros meses. Uma lógica parecida pode ser aplicada no ‘relaxamento’ da quarentena, afinal, o rendimento do negócio não será o mesmo de antes e não dá para esperar um retorno financeiro amplo logo na readaptação do comércio”, conclui.
A cidade de São Paulo é uma das primeiras capitais a presenciar o retorno morno e desapontante das atividades comerciais. Apesar da reabertura do comércio de rua, uma queda de 69% no faturamento habitual foi registrada entre os dias 10 e 14 de junho, segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP).